Desconectados?

Facebook, Twitter…O mundo está conectado!

Será mesmo?

Embora eu seja uma apaixonada convicta por todas essas invenções, não posso deixar de perceber que as pessoas que utilizam tais instrumentos estão cada vez mais ilhadas e solitárias.

Diariamente recebo solicitações de amizade, cutucões, polegares em riste, mas contraditoriamente, quando encontro essas mesmas pessoas os olhares desviam, os passos aceleram, fingem que não me conhecem…

Estranho, não?

Minha geração (Senhor! Nunca imaginei que falaria isso tão cedo!)  presenciou a transição tecnológica.

Minhas provas no colégio vinham úmidas e tinham cheiro de álcool, pois passavam pelo mimeógrafo para serem impressas (prezado leitor: se vc nasceu após 1990 visite o museu mais próximo, pergunte para seus pais, tios, ou faça uma busca no google, wikipedia, etc).

Pesquisas? Biblioteca era o local indicado. Para lá iam os alunos do colégio que se encontravam e iniciavam a odisseia de busca na extinta Enciclopédia Barsa.

Celular era apenas o adjetivo relativo a célula.

As palavras ideia, geleia, plateia tinham acento!

Lembro do dia em que meu pai fez festa porque havia adquirido sua primeira máquina de escrever elétrica (marca Olímpia, salvo engano). Ele dizia: “Filha, isso é o futuro!”.

Lembro da minha infância na casa das minhas avós, das brincadeiras com meus primos e primas, das cabaninha de almofadas, dos piqueniques.

Constumávamos convidar as crianças da vizinhança para brincar de boneca, pular elástico na rua, amarelinha, pega-pega, esconde-esconde, entre outras atividades lúdicas interativas.

As meninas reuniam-se diariamente para fazer troca de papéis de carta.

Sim…carta!

Recebíamos e enviávamos longas e cuidadosas cartas manuscritas (hoje só recebo carta manuscrita de réu preso).

Integração, contato, olho no olho.

Ah…os bailinhos na casa dos amigos…que delícia!

Mesas postas! Como era bom! Havia tempo para a família compartilhar a refeição, que era pensada e elaborada  carinhosamente e calmamente.

Dellivery? O que era isso?

Lembro que o Natal demorava demais pra chegar.

Tempos bons aqueles em que havia demoras e esperas.

Se algum menino quisesse namorar (sim, eles costumavam fazer um pedido formal) era praxe a menina pedir “um tempo para pensar”.

O que fizemos com nosso tempo?

O que fizemos com as relações humanas?

Porque estamos nos tornando superficiais, frios e distantes?

Evoluímos tecnologicamente e regredimos emocionalmente.

Atitudes como a do assassino de Realengo no Rio de Janeiro talvez tenha origem na virtualização das relações e na banalização da vida!

Uma metáfora muito compatível com esse sentimento é a da fina camada de gelo que Bauman propõe.

Estamos todos andando sobre uma fina camada de gelo. Se ficarmos parados ela se rompe e nos afogamos. Então precisamos sempre estar em movimento, sempre correndo, sem mesmo saber para onde, mas sempre indo em frente e rapidamente.

Com isso perdemos a noção do essencial.

Estamos todos “ligados” no automático, conectados com o mundo, porém absolutamente desconectados de nós mesmos e das pessoas que nos cercam.

Francine Maria Carreira Marciano

Sobre blog Mosaico Prosaico

Advogada especialista em Direito do Consumidor, observadora, curiosa e aprendiz!
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11 respostas para Desconectados?

  1. Edson disse:

    fran… vc me fez voltar uns 20 anos… me lembro de 2 vezes por ano (férias escolares) ir para casa de meus avós (cidadezinha 800k de SP em MG) e sair com meus 2 primos para andar nos trilhos de trem, subir no pés de manga para catar manga VERDEEEE e comer com sal. Jogar bolinha de gude ou Totó (tradução = pimbolim)… Essa cidade eu costumo chamar hoje minha Neverland rsrs… Vc deveria colocar uma perguntinha básica no final do seu dócil e nostálgico texto: Quando foi a última carta (carta mesmo) que vc escreveu para alguém? rsrs. Adorei o texto… voltei por um breve instante para minha Neverland rsrs

  2. bhmachado disse:

    Excelente e tocante. Uma dúvida: nos seus “bailinhos” que vc frequentava, as meninas tinham de levar um prato de doce e os meninos um de salgado?

  3. Fran, muito bom. Em nehum momento da vida podemos deixar para traz os valores humanos que nos movem. Parabéns pelo olhar crítico e ao mesmo tempo sutil com o qual tratou o assunto.

  4. Devo confessar a vocês que escrevi esse texto com um sorriso nos lábios ao reviver mentalmente todas as delícias da minha infância e adolescência.
    Acredito que após a Revolução Industrial, com a massificação da produção, acabamos nos massificando como seres humanos.
    Por isso é importante relembrar nossa essência e os valores que nos fazem ser ÚNICOS E ESPECIAIS!!!!
    Edson…volte para a sua NEVERLAND todas as vezes que precisar relembrar QUEM VOCÊ É!!!!
    Bruno…hehehe…SIM, as meninas eram responsáveis pelo doce (é usual a mulher adoçar os ambientes, rs!).
    O mais gostoso era a preparação… Tenho lembranças deliciosas da minha avó (que já se foi) batendo o bolo e segurando nas minhas mãos para passar a cobertura…aquele cheiro no ar…enfim…detalhes…que tornam a vida deliciosa de ser VIVIDA!!!!

  5. Fernanda disse:

    Delicioso o texto, principalmente pq estou prestes a completar anos!!! rs O melhor presente??? …terra fofa e grama para deitar com meu filho e procurarmos bichos pelas nuvens…
    Fran, faltou vc e a Tammy ontem para dar boas risadas com a gente!!!
    Beijo grande
    Fer

    • Obrigada, futura aniversariante!!!
      Senti muito por não poder comparecer ontem…
      Aproveito a oportunidade para deixar consignada a absoluta admiração que sinto por você, Fer!
      Desejo muita grama fofa, pescocinho de “filhote” para beijar e cheirar, sorvete derretido, algodão doce, brincadeiras e que você encontre nas nuvens, na terra e principalmente no seu coração tudo aquilo que procura e anseia!!!!

      Bjs carinhosos, querida!!!

  6. Bruno Machado disse:

    Pois é…uma vez pediram para os meninos levarem doce. Eu não sabia o que fazer e apelei para um pacote de bombom. Fez o maior sucesso…rsrsrs
    É, os anos 1990 foram bem legais!rs

  7. M Fernanda Cenci Rolim disse:

    Amada, Querida, Salve, Salve Fran,
    Adorei sua crônica, iniciei bem, já que foi a primeira de todas que eu pretendo ler.
    O puxão de orelha inicial foi perfeito, tbém penso muito nisso, o motivo das pessoas se soltarem por trás da tela do computador, ao passo que ao vivo falta-lhes coragem para relacionarem-se.
    Como vc, sinto muita falta do ‘ontem”…
    Um dia desses, numa das minha aventuras gastronomicas, peguei um caderno de receitas da minha mãe e numa página estava escrito: ” junho de 1985″ Eu, minha mãe, e as crianças (Fer, Bel e Nel) fazendo bolinho de chuva a tarde!
    Que saudadessssss, sabe quantas vezes passei a tarde fazendo bolinhos de chuva com a minha filhota??? Mundo doido não??!
    Mas a decisão é… ainda passarei várias, porque acredito que a grande chance de vivenciarmos um pouquinho do que aprendemos no passado é mostrar com muita alegria o caminho da “roça” para o nossos filhos, afinal, cabe a nós ensiná-los a não permanecer sob uma fina camada de gelo, ou a não conctarem o automático, pois a vida passa e a gente não percebe!
    Quem sabe assim, através do “nosso” quintal contribuimos para que nossos filhos tenham do que lembrar e para que o mundo volte a se emocionar!
    Te amo sempre
    Fer

  8. Minha amada amiga Fê,

    Simplesmente sem palavras…
    Como é maravilhoso despertar o lado mais iluminado de pessoas tão especiais como você!!!!
    Seu comentário foi um presente para mim e para aos leitores desse blog!!!!

    “Love loo” (parafraseando a sábia Clarinha)

    Bjsssssss e muitos bolinhos de chuva!!!

  9. Irineu Fernandes disse:

    Francine nos meus poucos 64 anos tive o privilégio de viver momentos hilários, nosso celular, quando criança Tb existia e era de latinhas de massa de tomate “ELEFANTE” com um barbante amarrado no fundo.
    Na verdade não se dava para ouvir direito, mas como a gente gritava o outro conseguia ouvir, brincar de mãe da rua, um no pulo, esconde – esconde, pescar no rio perto de casa, ter a sola do pé verde da cor da grama, fazer guerra de mamona, brincar de mocinho e bandido (naquele tempo a maioria era mocinho) bailinhos com vitrola DELTA …etc .
    Enfim sua crônica remete o leitor mais vivido (em idade) momentos de recordações de um passado que é passado.
    Mas Francine o presente também tem coisas boas, como as coisas que vc consegue transmitir
    Francine quanto as cartas tenho algumas tias que esperam no final de ano a mensagem que há muito escrevo e para elas mando por cartas pois sei que acabou virando um compromisso, te mando em anexo a desse ano.
    Parabéns pelo texto
    Um abraço
    Irineu

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